
“Éramos mal-humorados e super remunerados. Nossas manhãs careciam de expectativas. Os que fumavam pelo menos tinham algo por que esperar às 10:15. A maioria gostava de quase todo mundo, uns poucos detestavam indivíduos específicos, um ou outro amavam a tudo e a todos. Os que amavam à todos eram unanimemente insultados. (...) Nossos benefícios eram espantosos em amplitude e qualidade. Às vezes questionávamos se valiam a pena. Pensávamos que mudar para a Índia poderia ser melhor, ou voltar para a escola de enfermagem. Fazer algo em prol dos deficientes ou trabalhar com as nossas próprias mãos. Ninguém jamais concretizou tais impulsos (...). Em vez disso, nos reuníamos em salas de conferência para discutir as questões do dia.”
Assim começa o livro “E nós chegamos ao fim” do escritor americano Joshua Ferris, recém lançado no Brasil pela Nova Fronteira. O autor narra com acidez e fino sarcasmo o cotidiano de uma agência de publicidade. Principalmente o setor que normalmente é chamado cérebro da empresa: o departamento de criação. Suas personagens, extremamente realistas, são publicitários frustrados, individualistas e à beira de um ataque de nervos com o estouro da bolha das empresas .com. Todos temem que a crise econômica advinda daí ceife seus cargos e os ótimos salários e benesses a que estão acostumados. Com uma prosa precisa, fluida, sem carregar em estilismos, o escritor vai construindo um ambiente onde o pânico e a paranóia da demissão imperam, pois ninguém quer ser próximo da lista. Longe de fazer um livro corporativo, Ferris mostra com a sua escrita um universo cruel, uma realidade onde o indivíduo existe para ser empurrado ao limite, na maioria das vezes pela dominante filosofia do consumismo. Aqui não há só algozes nem só vitimas. Ambos se equiparam. Uma saída possível seria retomar os ideais de liberdade e volta ao essencial, à natureza de escritores como Whitman, Thureau e Emerson – citado no início do livro.
Assim começa o livro “E nós chegamos ao fim” do escritor americano Joshua Ferris, recém lançado no Brasil pela Nova Fronteira. O autor narra com acidez e fino sarcasmo o cotidiano de uma agência de publicidade. Principalmente o setor que normalmente é chamado cérebro da empresa: o departamento de criação. Suas personagens, extremamente realistas, são publicitários frustrados, individualistas e à beira de um ataque de nervos com o estouro da bolha das empresas .com. Todos temem que a crise econômica advinda daí ceife seus cargos e os ótimos salários e benesses a que estão acostumados. Com uma prosa precisa, fluida, sem carregar em estilismos, o escritor vai construindo um ambiente onde o pânico e a paranóia da demissão imperam, pois ninguém quer ser próximo da lista. Longe de fazer um livro corporativo, Ferris mostra com a sua escrita um universo cruel, uma realidade onde o indivíduo existe para ser empurrado ao limite, na maioria das vezes pela dominante filosofia do consumismo. Aqui não há só algozes nem só vitimas. Ambos se equiparam. Uma saída possível seria retomar os ideais de liberdade e volta ao essencial, à natureza de escritores como Whitman, Thureau e Emerson – citado no início do livro.
Algumas passagens são de um humor negro desconcertante. Como o caso da filha de uma das funcionárias da agência que é seqüestrada. Nessa hora, todos na criação se unem para fazer o cartaz de ‘procura-se’ com a foto da menina. Só que descobrem que na foto o sorriso dela é meio torto e perdem horas na frente do computador usando photoshop para corrigir o que eles consideram uma imperfeição. No final, descobre-se que a menina foi morta e encontrada num terreno baldio em um saco plástico.
Nick Hornby elogiou o cara apontando-o como uma mistura de Kafka com a série The Office. O NY Times colocou o livro entre os seus 10 melhores do ano. Eu só posso dizer que é um livro altamente devorável feito para ler com o maior prazer.
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