
Primeiro vamos às devidas apresentações. Um pouco que sei sobre o cara por trás do projeto. Seu nome é Steven Ellison, mora em Winnetka, Califórnia, e é sobrinho de Alice Coltrane - esposa, colaboradora e guardiã do legado do Coltrane que você deve estar imaginando, o John, gênio do jazz que dispensa apresentações. Para sobreviver Steve se vira como DJ e já fez muita trilha - a maioria não creditada a ele - para o divertido cartoon Adult Swim.
Flying Lotus se define como produtor de hip hop, mas sua musicalidade vai além, muito além. Incorporando à carga genética do jazz que traz no sangue, o funk e r&b dos anos 70, o experimentalismo abstrato do IDM, as visões de futurismos nublados do muzak pop dos anos 60 e, claro, os fundamentos do mais underground hip hop, pois sem ele a coisa não funcionaria. O som resultante dessa gama de influências cabe perfeito sob o rótulo (de qualidade, diga-se) Warp, uma das mais prestigiadas gravadoras independentes do mundo. Na estante da sua casa dedicada ao selo - ah, vai, toda casa tem uma...- , seus discos poderiam figurar ao lado dos Profuse 73, Nightmares on Wax, Jamie Lidell e, até mesmo, nos momentos de ambiências mais pastorais, Boards of Canadá. Também é bastante associado aos igualmente underground hips Madlib e J Dilla.
O seu mais novo lançamento chama-se Los Angeles, e junto com o seu cd sua estréia 1983 (2006) e os eps Reset (2007) e L.A Ep 1x3 (2008) compõem a sua discografia.
Em Los Angeles, Flyin Lótus aprofunda as experimentações do 1983. Seus teclados soam ainda mais viajantes e os seus samplers pouco orgânicos são distorcidos até alcançarem uma certa dramaticidade musical. O resultado, ao contrário do que se possa imaginar pela descrição, é belo. Surpreendente e de uma leveza capaz de sensibilizar uma alma cansada e musicalmente cética, como a minha...
O disco abre com a climatologia em alta rotação de faixas como “Brainfeeder” e “Breath . Something/ Sellar Star”. A partir daí arquitetura sonora vai sendo manufaturada gradual e cuidadosamente para que você seja absorvido por esse universo de sons envolventes e misteriosos. Para quem já conhece, as comparações com os momentos mais instigantes do Profuse 73 são inevitáveis. O universo rítmico que gerou o artista ganha corpo em faixas como “Melt!” e “Comet Course”. A primeira mais tribal, a segunda jazzy e sincopada. Beats sintéticos e texturas oníricas sobressaem ainda mais em “Golden Godiva”. Fluxo musical. Chiados de vinil antigo e frequências de rádios mal sinalizadas, como se captadas de um espaço distante, perpassam a maioria das faixas. Pela minha leitura soam como lembranças de fundamentos do hip hop old school os chiados. As freqüências mal sintonizadas remetem ao estado atual das nossas rádios num dial infectado e dominado por tanto lixo musical. Na sequência, o popismo cerebral de “Parisian Goldfish” surge encantador, calorento, dançante e perfeito até para uma disputada roda de break – underground!
O disco fecha com a sutileza jazzy, noturna, de “Testament” evocando uma Billie Holiday ambígua nos vocais de Gonja Sufi e o singelo lulaby de “Autie’s Lock/ Infinito”. Depois disso, o som evapora, o silêncio toma conta, mas aí, sorry, você já foi capturado. Flaying Lotus. Vale muito a pena conhecer.
Para ouvir:
http://www.myspace.com/flyinglotus
Para conhecer mais e jogar:
http://www.flying-lotus.com/destroy/
Um comentário:
Música abstratona, barulhinhos, pouca melodia. Também não tô nesse moody. De qualquer sorte, há pontos altos. No EP Reset, "Vegas Collie" parece que o DJ Shadow teve um problema nos sintetizadores ao executar "Backstage Girl". É uma ótima trilha sonora praquele sábado que vc chega em casa da balada sem pegar ninguém. Já "Massage Situation", também do EP, é bela e simples.
Postar um comentário